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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

(im)pulsões

Poesia concreta sobre a dureza da vida.

 





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"And I find it kind of funny, I find it kind of sad. The dreams in wich I'm dying are the best I ever had. (...) No tomorrow, no tomorrow"

sábado, 6 de outubro de 2012

Vícios e virtudes.


Quando o texto vem pronto na mente, é até pecado guardar só no coração.
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- Garçom, me vê mais uma cerveja, por favor.

Este sou eu. Mais um homem neste mundão de Deus. Não tenho medo de nada, não devo satisfações a ninguém. Sou daquele tipo de homem que vive bem sozinho, não gosto de depender dos outros. Vivo por aí. Trabalho, e trabalho muito. Bebo minha cervejinha no final do dia.

- Hey, amigão, me traz uma branquinha da braba.

Mas eu nem sempre fui assim. Já fui mais tolerante. Já fui mais tolerável. Já fui aquele tipo de cara em que todo mundo confia, todos gostam de ter por perto. Vou contar aqui o que aconteceu, e como foi que ela entrou na minha vida. E você, tenha a fineza de não me ouvir.

- Garçom, traz mais duas doses.

Eu trabalhava numa fábrica, dessas grandes montadoras de carros estrangeira. Não ganhava muito, mas era solteiro, e o dinheiro que eu ganhava dava pra bancar as minhas farras, os meus cigarros e as minhas cervejas. Mas foi então que eu a conheci. E rapaz, quando um homem conhece a mulher da sua vida, ele sente lá dentro do peito a certeza brotando, e bem naquele momento ele sabe, de alguma maneira, que é a mão dela que ele quer segurar no dia em que estiver partindo. Pois então, foi isso que eu senti quando a vi. Ela era linda. Cabelão preto batendo na cintura, liso de um jeito todo dela, nem alta, nem baixa, nem gorda e nem magra. Perfeita.

- Hey amigo, tem conhaque?

E desde que a gente se olhou pela primeira vez, a gente se amou. Dei lugar pra ela no ônibus, e ela sorriu. Seu moço, meu coração arrebentou no peito quando ela abriu aquele sorriso. Casamos 8 meses depois, eu já sem cigarro na vida, e ela com um menino na barriga. Gosto nem de lembrar os tombos que a gente tomou no começo, mas eu tinha certeza que em cada tropeço, a gente ia levantar de mãos dada, e mais esperto. Com o tempo a gente aprendeu a desviar das durezas da vida, e quando a dificuldade vinha, era na unha que a gente enfrentava. Juntos. Depois do primeiro guri, vieram mais 3 filhos. Tínhamos 3 homens e 1 menininha. Agarrada comigo que nem carrapato em vira-lata. Ela era o meu xodó... os moleques nem preciso falar, um mais terrível que o outro. Eles eram o meu tesouro.

- Traz uma caipirinha. Uma rodada pro bar todo, na minha conta.

A mulher, moço, era a teimosia em pessoa. Quando encasquetava com uma coisa, não tinha quem conseguisse tirar. Ela cismou que eu tinha que parar de beber. E ainda colocou as crianças nessa. Eu passei a ter 5 inimigos em casa, detetives que vigiavam cada passo, e quando eu tomava um aperitivo e ia pra casa, era como encontrar o diabo. Eu não tinha paz. Eu falava pra ela que eu não era viciado. Isso é coisa de vagabundo, e eu trabalhava! Mas então, num dia, eu quis tomar uma cerveja no almoço. Era sexta-feira, faltava só meio período pra terminar o serviço. Pedi uma latinha, e depois veio outra, e mais outra, e outra, outra, outra, outra, outra, e mais uma. E eu não voltei pra trabalhar. Cheguei tarde em casa e mal conseguia abrir o portão. Diacho de moleque que deixava o portão trancado! Esmurrei a madeira dura e firme. Ela abriu a porta e me viu, caindo. E então, ela fez o que eu nunca esperei: fechou o portão na minha cara. Dormi na rua, com um pulguento do lado, lambendo a minha boca de cachaça. No outro dia era só olhar de reprovação. Piorou quando chegou segunda-feira e eu perdi o emprego. Justa causa, me viram no bar. Bebi pra esquecer. E bebi no outro dia também, porque eu ainda lembrava. E no outro, e no outro, e no outro. E do amor, que ela me tinha, apesar de não ser pouco, se acabou. Do companheirismo, não sobrou nem o respeito. E quando até o respeito vai embora moço, é porque a vida junto já não vale mais nada. De tanto reprovar, ela cansou. Pegou a molecada e levou embora. Com eles, foi também o meu coração. Minha alma foi jogada ao vento, pelas minhas próprias mãos. Tem pra mais de 5 anos que eu não vejo os meus filhos.

- Amigo, vê mais uma pra mim.

E foi aí que a minha vida virou de cabeça pra baixo. Só quem já foi ao inferno sabe como é difícil voltar pro paraíso. E o meu paraíso, moço, é ao lado deles. Ainda não encontrei o meu caminho de volta. Não sou um viciado, não sou um marginal. Eu sou alguém que gosta de beber. Só isso. Simples. E é por isso que eu vivo assim, de mesa em mesa, de bar em bar, virando copo atrás de copo. O que, moço? A morte? Tenho medo dela não. A morte é uma idiota, que ainda não teve a sorte de me encontrar. Quando ela vier, só vou pedir duas coisas: deixar eu ver como andam os moleques, e só mais uma dosesinha de cana, pra relaxar.

- Garçom, traz o meu whisky!

Virou rapidamente o copo e saiu do bar, torto das pernas, a vida inteira lhe pesando nos ombros. Encontrou um banco na praça. Sentou. Escorregou, deitou. A mão, bêbada, ficou pendurada, roçando o chão. Nesse momento, a morte, que já rondava o velho há anos, segurou-a entre seus dedos ossudos, na falta da mulher da vida dele, e foi então que ele sonhou com os filhos, pela última vez.





















"Sou um animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta o meu desejo. Tente me obrigar a fazer o que não quero e 'cê vai logo ver o que acontece."

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Opaco

Ia postar uma crônica antiga aqui, mas também queria falar sobre o homem opaco. Acabei escolhendo ele xDD

Ele caminhava pesado sobre a calçada, como se os ombros lhe encurvasse para o chão. Não levantava a cabeça, não olhava pra frente. Mirava um ponto qualquer da calçada e ia seguindo sua linha. Não ousava, nunca, nem ao caminhar, não saía da linha imaginária que ele tinha traçado. Eu o segui, pela outra calçada, queria saber onde ia aquele homem murcho. Era assim que o via, como uma flor que murchou com o tempo. Garanto a você que ele até possuia esse aspecto meio marrom acinzentado que as flores possuem quando estão murchas. Ele era opaco. Cruzou a avenida e pela primeira vez em 30 minutos de caminhada eu pude ver seu rosto: era algo inexpressivo, simples como um pedaço de madeira que você chuta na rua. Mas seus olhos... seus olhos mostravam algo que eu nunca antes tinha sentido. Era tristeza, amargura, humildade, não sei definir... era como se ele fosse inferior, porque era exatamente assim que ele se sentia, e não queria ser diferente. Como se tivesse se acostumado a ser menos que os outros. Ele era contido. Quando viu que eu o olhava, vacilou o olhar, deixou ele cair, e eu, deixei morrer o sorriso que nascia nos meus lábios. Percebi que ele ficou confuso depois disso. Eu acabara de atormentar o seu mundinho, tão limitado e previsível. Atravessou a avenida e rumou para a catraia, eu o segui, fielmente, em silêncio. Na embarcação ele não falou com ninguém, apenas ficou olhando pro mar podre e com cheiro de soja por onde nossa catraia passava. Nem as baratinhas da parede lhe tiravam a determinação de ser invisível. Estávamos parados há 10 minutos, navios em manobra stressam qualquer ser humano comum. É chato ficar parado no meio do mar, esperando um monstro de milhões de quilos se mover muito lentamente. Eu estava na catraia. Eu e o homem. E ele era nulo. Fiquei a olha-lo, imaginando o que havia debaixo de sua pele fraca, que sentimentos escondia Percebi um leve estremecer de seu lábio inferior. Vi uma agitação que se formava e vi ainda os muitos anos de opacidade se juntando e explodindo. Ele se levantou e pulou de cabeça no mar, diante do navio em manobra. Tentamos gritar pra ele, mas já era tarde demais, ele foi preciso no salto. E o que vimos depois disso foram os vários pedaços do homem desbotado colorir o mar.


" Hmm, ela se jogou da janela do 5º andar, nada é fácil de entender..."



sexta-feira, 3 de julho de 2009

Medo




Morte

Quero matá-la
Quero morrer
Quero exorcizar minha ânsia
E minha raiva
Quero fazê-la abrir-se em sangue
E lavar todo o piso
Com o líquido vermelho da minha glória
Quero matar em meu peito esse desejo
Trucidar e deixar em pedaços essa vontade
Gritar, morder e rasgar até restar apenas fibras
Quero acabar com essa estranha que grita
E vocifera em minha mente cansada
Alterando tudo o que sou, aspiro
Desejo e espero.


"The world around us makes me feel so small"