segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Quando a revolução chegar

Quando a revolução chegar
Ela não trará flores
Nem sorrisos
Virá com os olhos embotados
De lágrimas e injustiças
E requisitará a tua mão

Quando a revolução chegar
Não trará belezas
Nem alegrias
Chegará calejada e áspera
Da labuta diária
E quererá a tua força

Quando a revolução chegar
Não virá em cavalo branco
Nem de carro
Mas nos pés oprimidos e teimosos
Despidos de tudo
E buscará o teu vigor

Quando a revolução chegar
Não virá de fácil acesso
Nem bom grado
Mas da força da massa uníssona
Do povo unido
E precisará da tua voz

Quando a revolução chegar, amor
Antes da sonhada liberdade
Haverá luta
Antes da nossa glória,
O luto
Que, para nós, será verbo.



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"Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer."

domingo, 28 de outubro de 2018

A bala

Poesia concreta de quem já teve a vida 'abalada'.
#NãoAoRetrocesso



A BALA


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"O cano fuzil refletiu o lado ruim do Brasil"


terça-feira, 9 de outubro de 2018

Multifaces

Porque somos muitos, e muitas vezes todos explodem ao mesmo tempo.
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Multifaces 

Venho com o rosto já batido
Braços cansados
Coração em pedaços
Pés rachados
Mãos inertes
Boca calada.

Chego com a alma encharcada
O corpo abatido
O passo pesado
A língua colada
Os olhos cerrados
O orgulho ferido.

Tenho múltiplas faces
E todas elas
Já estão marcadas.



"Pai, afasta de mim esse cálice. De vinho tinto de sangue. Como é difícil acordar calado se na calada da noite eu me dano. Quero lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado. Esse silêncio todo me atordoa. Atordoado eu permaneço atento na arquibancada pra a qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa. Pai, afasta de mim esse cálice!"

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Véu

Véu

O véu da morte cobria o prédio
Descascado, sujo e baço
Que contemplo para aliviar o tédio
Desacelerando meu largo passo.

O véu cinza da morte o encobria
Como embalado por uma nuvem estranha
E dentro dele tudo também morria
Definhando por força tamanha.

O véu, o lúgubre véu da morte
Composto de tecido, tempo e pó
Recai sobre o prédio sem sorte
Onde meu passo ecoa só.

O véu da morte, o tênue véu
Encerra os escombros no chão
Esqueleto desmoronado ao léu
Que jaz invisível na multidão.

O véu da morte, véu nefasto
Que isola do mundo, o prédio
Que esmaece enquanto me afasto
E me joga de volta ao tédio.



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"E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito, Clarisse sabe que a loucura está presente. E sente a essência estranha do que é a morte, mas esse vazio ela conhece muito bem."

sexta-feira, 30 de março de 2018

Presente

Presente

Tua ausência abrupta
A forma como tua vida foi ceifada
O sangue inocente que jorrou
E inundou o país
Transbordou pelo mundo
Fazem de ti símbolo de um povo.

Tua luta, tua lida
Teu suor, teu sacrifício
Marcaram o mapa
E ecoaram no universo

Do Rio pra Eternidade
Eternizada em muros
Discursos, lágrimas
Trabalho, corações.

Que peguem e prendam
O(s) algoz(es)
Que agora gozam
Liberdade.

Que tua alma ganhe asas
Que tua memória ganhe terreno
Que teu discurso ganhe voz
Que teu legado receba justiça.

Marielle vive
Marielle grite
Marielle lute
Marielle, presente!

Fonte: Google Imagens

"Como é difícil acordar calado, se na calada da noite eu me dano. Quero lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado. Esse silêncio todo me atordoa, e atordoado eu permaneço atento.  Na arquibancada pra a qualquer momento, ver emergir o monstro da lagoa."

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Eu deixei passar os primeiros dias para poder postar a minha homenagem, tão singela. Seria hipocrisia falar que conhecia o seu trabalho. Eu conhecia o seu nome, por sempre pesquisar por mulheres na política.

A ferocidade com que a atacaram após a sua morte, é quase tão horripilante quanto a matar. Quem aperta o botão que propaga as notícias falsas, é tão sem escrúpulos quanto quem apertou o gatilho.

Não nos calemos, não abaixemos a nossa cabeça; Não vamos fingir que nada aconteceu, e Anderson e Marielle não terão partido em vão.


sábado, 27 de janeiro de 2018

Na hora mais escura

Na hora mais escura
Quando a pálida lua
É só uma mancha no céu,
O breu envolve meu corpo
O frio abraça minha alma
E minha lágrima fecunda o medo.
A angústia corre em segredo
Pelas minhas veias
No lugar do sangue.

Na hora mais escura
Quando o baixo sussuro
Vira grito desesperado,
Eu fecho os olhos e tapo os ouvidos
E passo a ouvir meus brados internos
Agudos e intensos.
Com a sufocante sensação
De dor e abafamento
Parecido com morrer afogado.

Na hora mais escura
As preces são mais fervorosas
A fé é muralha de ferro,
O medo é um abutre faminto
Que acompanha de perto
E se alimenta de sofrimento.
As incertezas são banhadas
Pelas lágrimas frias
De mais um alvorecer.



"Minha laranjeira verde, por que está tão prateada? Foi da lua dessa noite, do sereno da madrugada. Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço, enquanto o caos segue em frente, com toda a calma do mundo."