sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Sacolas


Sacolas

Quando tudo o que tens
Cabe em duas sacolas
Você ouvirá dizerem por aí:
- É um coitado, vive de esmolas.

Mas mal sabem eles
Que riqueza, trazemos dentro do peito
Que não é o modelo de um carro
Que deve nos trazer respeito.

Penso eu então aqui no meu canto
Que vida triste deve ter um sujeito
Que não vê a beleza do voo d’um pássaro
Que não sabe a dor da lágrima num pranto

E fico aqui, sentado a imaginar
Como deve ser doloroso viver só na borda
Que memórias terá, do que vai lembrar
Alguém que com o outro não se importa.

E aqui, escondido, eu matuto
Que magnata nenhum no mundo vai sentir
A alegria no peito de ver sorrir
Uma criança que passa e não tem preconceito

Sou um homem de roupa rasgada e pé no chão
E meu mundo é muito mais do que esmola
Porque a minha riqueza, moço, não ‘tá na sacola
Tá no bando de sentimento que trago no coração.



"Vamos celebrar a fome. Não ter a quem ouvir, não se ter a quem amar. Vamos alimentar o que é maldade, vamos machucar o coração (...) Vamos festejar a inveja, a intolerância, a incompreensão.  Vamos festejar a violência e esquecer a nossa gente que trabalhou honestamente a vida inteira, e agora não tem mais direito a nada..."