domingo, 27 de fevereiro de 2022

(Des)sentir

(Des)sentir

Sou uma antítese de mim
Um não-eu
Eu ausente.

Um poço de mágoas
Um mar de dores
Que me afogam.

Aceno sofregamente do fundo
Naufragada n'eu mesma
Arrebatada na escuridão.

Como se me perdesse por dentro
Num turbilhão imenso
De sentimentos turvos

Quisera eu encontrar fôlego
"Dessentir" toda maré
De angústia e padecimento

Voltar pelo caminho de migalhas
Pelos rastros de destruição
Do sentir demasiado

Talvez assim eu me encontrasse
E apontasse outra direção
Mais colorida e completa

Enfim,
Quiçá
O fim. 


Créditos da imagem: mocah.org / Manipulada pela autora

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Veja o sol dessa manhã tão cinza. A tempestade que chega é da cor dos seus olhos, castanhos... Então me abraça forte.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

(im)pulsões

Poesia concreta sobre a dureza da vida.

 





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"And I find it kind of funny, I find it kind of sad. The dreams in wich I'm dying are the best I ever had. (...) No tomorrow, no tomorrow"

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Janela

 "Os olhos são a janela da alma"

Leonardo da Vinci


Janela
Pela minha janela, eu vi o céu mudar de cor.
Vi Vênus e Marte brilharem no céu
Num baile estranho entre amor e guerra.
Cada estrela que desponta
Cada raio refletido pela lua
Cada nuvem de forma esquisita
Vêm pra me lembrar que tudo muda
Tudo é etéreo, nada é eterno.
Até o sol, às vezes, se encobre
Num gesto de recolhimento da reflexão.
Pela minha janela eu vi o céu mudar de cor
Eu vi o azul virar dourado, o dourado, laranja
O laranja, vermelho, depois o roxo e o azul
Que virou dourado, o dourado, laranja
O laranja, vermelho, depois o roxo e o azul
Que virou dourado, o dourado, laranja
O laranja, vermelho, depois o roxo e o azul
Que virou cinza
Que virou nuvem
Que virou chuva
Que virou tempestade
Monocor.


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"Antes eu sonhava, agora já não durmo".




quarta-feira, 29 de abril de 2020

Desarmonia

Eu escrevi esse conto, mais ou menos, em abril de 2019, e pensei em publicá-lo em livro. À época, me pareceu que traria mais ônus do que bônus, então, deixei estar. Agora chegou a hora de deixá-lo livre.

Desarmonia

- "Credo, que música chata! Vou trocar para alguma do Queen."

Foi assim que saímos das músicas da moda, que estavam tocando há horas, por algo que gostávamos mais. No exato momento em que ele disse essa frase, eu demorei mais o olhar nele. Na curva suave do pescoço, nas linhas do bíceps, no cacheado fofo da barba... eu nunca o tinha visto como homem, mas naquele momento, ele se tornou O CARA. Talvez fosse o sono falando mais alto, ou o calor insuportável me fazendo alucinar, mas tive a certeza de que a partir daquele momento as coisas iriam mudar para nós. Para mim, pelo menos. Engraçado como o coração nos prega peças, e faz de um retumbante “nada” um absoluto e profundo “tudo”. Enquanto eu o olhava, de longe, mexer no notebook, concentrado, "Somebody to love" me encheu os ouvidos, e suspirei, tonta. Eu tinha achado aquele que seria o motivo dos meus mais doces pensamentos. Pelo menos era o que eu achava.

Ele voltou e eu sorria, feito boba, como se tivesse fumado um baseado dos bons. Tudo nele resplandecia, luzia com os raios dourados do fim de tarde. Como se o sol, para seu próprio deleite, resolvesse banhar aquele corpo com sua mais pura luz. Eu queria tocá-lo, abraça-lo, fazê-lo meu. A partir daquele dia eu pensava nele dia e noite.Tentei

 me aproximar, me fazer notar. Enviava e postava as músicas de bandas que gostávamos para que ele visse. Aconcheguei seus medos em meu colo e o ninava por longas e insônes madrugadas enquanto conversávamos via internet, tão distantes e tão próximos. Eu o peguei pela mão e o guiei pelos caminhos que queria percorrer, sem perceber que este caminho era única e exclusivamente meu.

Em uma tarde de sábado, enquanto saudávamos à rainha em um café e nos divertíamos, percebi o quanto o queria para mim, para sempre... engraçado o que os contos de fadas fazem com a gente, nos levando a crer que o “para sempre” existe. Lembro que os versos “crazy little thing called love” tocavam no bar quando eu declarei meus sentimentos. Era tudo lindo, mágico, envolto por uma atmosfera de música e amor. Ledo engano... ele se levantou e saiu andando, sem rumo, para longe de mim. Cortou qualquer tipo de contato.Fiquei

 sem entender o que transformou a nossa doce melodia em desarmonia. Nunca mais o vi, nunca mais o toquei, nunca mais meu coração teve paz. Tudo o que ficou foi uma doce lembrança de quando nossas conversas fluíam para todos os enredos e tramas, e de como nossos sonhos e desejos convergiam, feito curvas de um rio que confluíam rumo ao mar. Tudo o que me restou foi um eterno gosto amargo de derrota, como o que um café ruim, mal feito, deixa na boca.

Penso sempre nele, e em como eu achei e quis que tudo fosse diferente, e sempre que sua imagem me vem à mente, eu escuto, ao longo, um sussurro, tão baixo que mal se faz notar, dizendo You don't know what you mean to me...




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Love of my life, you've hurt me
You've broken my heart and now you leave me


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Elegia do Adeus

Quando o Adeus vem antes do Olá
Todo o riso vira lágrima
E seca a garganta, que grita
Em um mudo lampejo de dor.

Quando o Adeus vem antes do Olá
Toda a esperança evapora no ar
E todas as certezas viram medo
A correr quente nas veias.

Quando o Adeus vem antes do Olá
Todo o futuro converte-se em passado
E as semanas perdem o sentido
O calendário vira acessório vazio.

Quando o Adeus vem antes do Olá
Toda a alegria vira amargor
E os sonhos viram sol ao anoitecer
Quando só resta se por.

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"Faz tempo eu quis fazer uma canção pra você viver mais."

*Para M/F, uma linda e pequenina estrela na imensidão do meu amor.