As bolas de algodão passeavam por sua face. Aos poucos, revelava seu rosto real, enquanto a cara maquiagem tingia a bolota branca e macia em sua mão.
Assim, de cabelos presos e rosto limpo, lembrava apenas vagamente a mulher que era durante o dia. As bolsas arroxeadas sob os olhos eram constantes agora. Era necessário muito corretivo e pó para deixar a pele apresentável.
Andreia sentia o peso da idade. Seus 32 anos, cheios de baladas e vida noturna, além da constante cara fechada, faziam-lhe rugas próximas aos olhos. As mãos, antes macias, começavam a apresentar algumas manchas e aspereza.
Olhou-se francamente no espelho, e não gostou do que viu. Não se via na mulher madura que o reflexo lhe mostrava. Não conseguia se enxergar sem as roupas de grife, a maquiagem impecável e todos os adereços luxuosos que ostentava. Assim, despida de tudo o que lhe compunha, era somente mais uma, e ela gostava mesmo era do destaque.
Deitou, mas não conseguiu dormir. Rolava pela cama vazia, pensando em sua vida. Mais de 30 anos, morando com a mãe, em um emprego que não via muita evolução, sem um namorado fixo e sem nada que fosse seu de verdade, além das dívidas em seu nome dos cartões de crédito.
No dia 8 de outubro será o lançamento das antologias da Andross Editora, incluindo as duas nas quais publicarei um conto e um poema. Há 8 anos eu publiquei pela primeira vez, e até hoje, somo participações em 6 coletâneas dessa editora, e logo mais serão 8. Foram 6 anos longe do "mundo literário", e estou muito feliz de voltar, quem sabe agora, em definitivo (ou não, só Deus sabe ahauhauahauh).
(Quase) Baseado em {não} fatos surir reais.
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Eu o conheci num sábado de carnaval. Num daqueles raros momentos onde o mundo para de girar e tudo é silêncio quando você olha para a pessoa, e de repente encontra todas as respostas que procura.
Um sorriso escapou dos lábios e quando me dei conta já conversávamos há horas. Vidas talvez? O momento da separação foi de uma dor imensa para ambos. Sentíamos no peito e na boca a saudade que massacraria os próximos dias.
Tudo se tornou cor de rosa, com textura de algodão, e viver ficou muito mais gracioso com a presença constante das mensagens, dos mimos e dos beijos roubados em sonho, como se todo o meu eu o quisesse sempre por perto. Ele era um príncipe, e eu um pássaro acostumado a voar sozinho, mas dessa vez eu queria companhia.
Mas a vida sempre tem um jeito maluco de nos surpreender, e a bela manhã de verão se tornou uma densa e tenebrosa noite de inverno. Em um sábado ele não apareceu. No domingo, não retornou minhas chamadas. Na segunda-feira sumiu de vez, apagando os rastros de sua vida pregressa.
Dias e noites se somaram ao sumiço, e cada minuto de ausência era uma pá que cavava fundo o buraco que ele deixou em meu peito. E então veio a luz. Uma mensagem de que tudo estava bem e como antes, apesar do stress de uma vida agitada para ambos. Mas as promessas não passaram de palavras vazias declaradas ao vento e que passaram a chegar em conta-gotas.
E a cada minuto de ansiedade foi se transformando em agonia. Depois veio a indiferença. Este pássaro não se contenta com migalhas. Fagulhas de afeto não aquecem. Nosso caso durou a eternidade de 3 poemas. Então em um sábado decidi que era hora de voar. Aleluia!
Hey, príncipe, tô levando o seu cavalo branco. E as mãos, que antes acariciavam tua pele, seguirão com os dedos médios em riste, sinal de que continuei de pé mesmo depois do duro golpe final. Adeus.
Babaca.
Fonte: Google Imagens
"Relógio que atrasa não adianta, e o remédio que cura também pode matar. Como água demais mata a planta."
Era o dia mais triste da minha vida. Eu acabara de perdê-la. Acabara de receber a notícia, acabara de tocar a sua mão fria e estática. Morta. E então veio a dor. E com ela a sua caixa de Pandora repleta de tristezas, de agruras, de tormento e de vazios retumbantes. Colei minha testa no vidro da UTI, minha boca ao mundo, minhas mãos ao vento e soltei os pedaços do coração que batia e apanhava, na ânsia de sobreviver e morrer, ao mesmo tempo, como quem se debate debaixo d'água e tanto afunda quanto nada. E então veio o grito. Alto, pungente, agudo e imperfeito. Experimentei a agonia mais intensa, como se mil punhais flamejantes transpassassem o meu corpo e arrancassem de mim tudo o que sou e sei. E foi então que eu o vi. Calado, sentado num canto, envolto no silêncio denso feito névoa que ecoava de sua tristeza. Minha dor gritava, urrava, esmurrava e chutava tudo ao redor. Saía pelos poros, vazava da boca e dos olhos, transbordava o coração e a alma. Minha dor era trovão e a dele mudez. A dor dele era intangível, imensurável. Enquanto a minha explodia, a dele descia pela garganta, serpenteando entre o choro engolido e se instaurava lá dentro. Quieta, muda, latejante. Perigosa. Minha dor lutava para fugir, e a dele se escondia. Como um animal acuado, recostou-se de cabeça baixa e chorou. Chorou pra si, pra sua dor. Regou-a com suas lágrimas internas. Queria abraçá-lo, queria dizer a ele que tudo ficaria bem. Queria recolher as suas mãos entre as minhas e enchê-las de esperanças, mas o sentimento dele era isolado, era único, intocável. Imóvel, ele assistiu a minha dor correr. Correndo, eu mal vi a sua dor implodir. Enquanto a minha dor berrava para sair, esguichava e enchia o ar, a dele silenciava, crescia para dentro, implodia e estremecia, como se o magma incandescente voltasse para dentro da terra e ardesse em brasas até queimar tudo por dentro, para só então escorrer em lágrimas quentes pela face e formar o pequeno oceano negro de tristeza mútua que nos rodeava e nos separava. E assim passamos longos meses em busca de algo que jamais teríamos. Que nunca mais encontraríamos. Que nunca mais fomos.
Desculpe-me.
"Água deve vir, diz a previsão. Vai nos alcançar sem qualquer rancor. Maré alta em mim. Água um dia brotará dos nós, em nós. Vai decantar. Lágrimas que fingem que não são mas são parte da enxurrada que virá, cheia de esquecer. Uma inundação por todo lugar porque se evitou. Maré alta enfim." (A Banda Mais Bonita da Cidade)
Quando o texto vem pronto na mente, é até pecado guardar só no coração.
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- Garçom, me vê mais uma cerveja, por favor.
Este sou eu. Mais um homem neste mundão de Deus. Não tenho medo de nada, não devo satisfações a ninguém. Sou daquele tipo de homem que vive bem sozinho, não gosto de depender dos outros. Vivo por aí. Trabalho, e trabalho muito. Bebo minha cervejinha no final do dia.
- Hey, amigão, me traz uma branquinha da braba.
Mas eu nem sempre fui assim. Já fui mais tolerante. Já fui mais tolerável. Já fui aquele tipo de cara em que todo mundo confia, todos gostam de ter por perto. Vou contar aqui o que aconteceu, e como foi que ela entrou na minha vida. E você, tenha a fineza de não me ouvir.
- Garçom, traz mais duas doses.
Eu trabalhava numa fábrica, dessas grandes montadoras de carros estrangeira. Não ganhava muito, mas era solteiro, e o dinheiro que eu ganhava dava pra bancar as minhas farras, os meus cigarros e as minhas cervejas. Mas foi então que eu a conheci. E rapaz, quando um homem conhece a mulher da sua vida, ele sente lá dentro do peito a certeza brotando, e bem naquele momento ele sabe, de alguma maneira, que é a mão dela que ele quer segurar no dia em que estiver partindo. Pois então, foi isso que eu senti quando a vi. Ela era linda. Cabelão preto batendo na cintura, liso de um jeito todo dela, nem alta, nem baixa, nem gorda e nem magra. Perfeita.
- Hey amigo, tem conhaque?
E desde que a gente se olhou pela primeira vez, a gente se amou. Dei lugar pra ela no ônibus, e ela sorriu. Seu moço, meu coração arrebentou no peito quando ela abriu aquele sorriso. Casamos 8 meses depois, eu já sem cigarro na vida, e ela com um menino na barriga. Gosto nem de lembrar os tombos que a gente tomou no começo, mas eu tinha certeza que em cada tropeço, a gente ia levantar de mãos dada, e mais esperto. Com o tempo a gente aprendeu a desviar das durezas da vida, e quando a dificuldade vinha, era na unha que a gente enfrentava. Juntos. Depois do primeiro guri, vieram mais 3 filhos. Tínhamos 3 homens e 1 menininha. Agarrada comigo que nem carrapato em vira-lata. Ela era o meu xodó... os moleques nem preciso falar, um mais terrível que o outro. Eles eram o meu tesouro.
- Traz uma caipirinha. Uma rodada pro bar todo, na minha conta.
A mulher, moço, era a teimosia em pessoa. Quando encasquetava com uma coisa, não tinha quem conseguisse tirar. Ela cismou que eu tinha que parar de beber. E ainda colocou as crianças nessa. Eu passei a ter 5 inimigos em casa, detetives que vigiavam cada passo, e quando eu tomava um aperitivo e ia pra casa, era como encontrar o diabo. Eu não tinha paz. Eu falava pra ela que eu não era viciado. Isso é coisa de vagabundo, e eu trabalhava! Mas então, num dia, eu quis tomar uma cerveja no almoço. Era sexta-feira, faltava só meio período pra terminar o serviço. Pedi uma latinha, e depois veio outra, e mais outra, e outra, outra, outra, outra, outra, e mais uma. E eu não voltei pra trabalhar. Cheguei tarde em casa e mal conseguia abrir o portão. Diacho de moleque que deixava o portão trancado! Esmurrei a madeira dura e firme. Ela abriu a porta e me viu, caindo. E então, ela fez o que eu nunca esperei: fechou o portão na minha cara. Dormi na rua, com um pulguento do lado, lambendo a minha boca de cachaça. No outro dia era só olhar de reprovação. Piorou quando chegou segunda-feira e eu perdi o emprego. Justa causa, me viram no bar. Bebi pra esquecer. E bebi no outro dia também, porque eu ainda lembrava. E no outro, e no outro, e no outro. E do amor, que ela me tinha, apesar de não ser pouco, se acabou. Do companheirismo, não sobrou nem o respeito. E quando até o respeito vai embora moço, é porque a vida junto já não vale mais nada. De tanto reprovar, ela cansou. Pegou a molecada e levou embora. Com eles, foi também o meu coração. Minha alma foi jogada ao vento, pelas minhas próprias mãos. Tem pra mais de 5 anos que eu não vejo os meus filhos.
- Amigo, vê mais uma pra mim.
E foi aí que a minha vida virou de cabeça pra baixo. Só quem já foi ao inferno sabe como é difícil voltar pro paraíso. E o meu paraíso, moço, é ao lado deles. Ainda não encontrei o meu caminho de volta. Não sou um viciado, não sou um marginal. Eu sou alguém que gosta de beber. Só isso. Simples. E é por isso que eu vivo assim, de mesa em mesa, de bar em bar, virando copo atrás de copo. O que, moço? A morte? Tenho medo dela não. A morte é uma idiota, que ainda não teve a sorte de me encontrar. Quando ela vier, só vou pedir duas coisas: deixar eu ver como andam os moleques, e só mais uma dosesinha de cana, pra relaxar.
- Garçom, traz o meu whisky!
Virou rapidamente o copo e saiu do bar, torto das pernas, a vida inteira lhe pesando nos ombros. Encontrou um banco na praça. Sentou. Escorregou, deitou. A mão, bêbada, ficou pendurada, roçando o chão. Nesse momento, a morte, que já rondava o velho há anos, segurou-a entre seus dedos ossudos, na falta da mulher da vida dele, e foi então que ele sonhou com os filhos, pela última vez.
"Sou um animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta o meu desejo. Tente me obrigar a fazer o que não quero e 'cê vai logo ver o que acontece."
Conheci dona Célia no trabalho. Era diarista e ia dar uma geral na empresa de 15 em 15 dias. Eu já trabalhava lá quando entrou. Miúda, meio encurvada, como se estivesse se escondendo do mundo. Falava baixo, como um sussuro, com medo de incomodar as pessoas. Andava leve também, pra não atormentar ninguém. Creio que se pudesse, seria uma sombra, dessas que a gente nem percebe, opaca. Seria invisível se não fosse o seu grande esforço para ser invisível. Eu gostava dela. Simplesmente gostava, sem motivos aparentes. Não falava muito com ninguém, era sempre muito calada, na verdade, mas me batia uma grande alegria no peito quando eu via dona Célia entrando com seus panos e seus pertences, e com sua bolsa barata de pano. Ela despertava em mim uma curiosidade de conhecê-la, de adentrar o seu mundinho restrito, de saber como são as coisas simples da vida. Eu sempre trabalhava muito, não tinha muito tempo pro mundo, exceto pra explorar o mundo de dona Célia. Lembro-me da primeira vez em que falou comigo. Seus olhos baixos, sua postura meio enclinada, sua fala leve, quase um sussuro, me entregando R$5,00 pra eu comprar o seu almoço. Fiquei comovida. Tive certeza de que confiava em mim naquele momento, essa era a sua maneira de demonstrar. Tanto que fiquei meio sem jeito de falar que o dinheiro não era o suficiente. Acabei pagando do meu bolso. E com prazer. Aos poucos foi se abrindo, se mostrando. Não mudou o jeito tímido de ser. A qualquer pedido acanhado de ajuda para remover uma máquina de lugar ou posicionar a escada em algum canto, sempre dizia: "Deus te abençoe!" E eu sentia mesmo que ele iria me abençoar. Descobri que morava numa casinha humilde num dos muitos bairros humildes do suburbio da cidade. Não tinha filhos. Vivia só, com o marido, igualmente acanhado e encurvado. Gostava de ver o especial do Roberto no fim de ano, e vivia escutando músicas dele e de outros bonitões do passado no seu microsystem, comprado em 6 prestações nas Casas Bahia. Comia pouco, bebia uma cervejinha no final do dia, ao lado do seu homem. Vivia pouco, assim quase superficialmente, mas no seu mundo, era muito. Vez ou outra fazia uma extravagância e levava umas fatias de queijo pra casa, pra comer com o pão com manteiga de todo dia. Ralava de sol a sol, limpando casas, escritórios, prédios e corações. Pra mim, sua maior qualidade não estava na coragem de encarar sozinha um andar inteiro pra limpar, fosse sábado, domingo e feriado, mas sim na pureza quase infantil com que olhava alguns olhos, purificando almas. Os meus olhos eram um par dos poucos privilegiados por sua escolha. Não há como negar que era uma guerreira, em ambos os mundos. Acho impressionante como as pessoas conseguem mudar a vida das outras assim, mesmo sem querer. Basta um cruzar de olhares, ou um roçar de mãos. Não precisa muito para se tornar especial. Às vezes uma conversa significa mais do que anos de convivência. Impressionante como Dona Célia mudou minha vida e eu nem mesmo sei dizer o porque de tamanha admiração que sinto. Só sei que hoje, mesmo tempos depois de tudo, ainda guardo um carinho enorme por ela no peito e tenho a certeza de ouvi-la dizer a todo momento: "Deus te abençoe"... ao que intimamente, respondo "a ti também..."
Olá meus queridos e fiéis leitores desse humilde blog! Mais uma promoção entrará no ar hj, e terminará dia 07/05, primeira sexta-feira de maio, impreterivelmente (adogo) às 23:59. O Prêmio dessa vez será um livro "Ecos da Alma", antologia poética da Andross Editora lançada em fevereiro, a qual faço parte. Nossa primeira promoção foi um sucesso, e a nossa vencedora por sorteio, Bruna Mara, recebeu o livro rapidinho e nos mandoufotos. Ela vai deixar uma síntese do que foi ganhar o concurso nos comentários desse post.
Bom, essa promoção vai ser diferente da outra, e vai instigar as habilidades literárias de vocês. Ahá! Quantos de vocês, lendo algum conto, crônica, ou até mesmo poema não pensaram: ahh, eu faria diferente!! ou ainda: Mas o final poderia ser assim, né??? Pois bem, chegou sua vez. PROMOÇÃO O CRIADOR DE DESTINOS GAVETAS REVIRADAS.
Regulamento:
- Postarei aqui o conto e deixarei o final livre, pra que vc o complemente, em até 15 linhas no blog.
- Vocês devem postar como comentários neste post, e na data limite, eu e a Bruna Mara escolheremos os 3 finalistas, e deixaremos a votação do melhor em aberto até o dia 21/05.
-Dia 22/05 publicaremos o conto finalizado com o desfecho escolhido e os dados do ganhador, e enviaremos o livro no 1º dia útil após a divulgação.
- Não divulguem opiniões sobre os finais propostos no blog durante a promoção, deixem isso para a votação.
- É permitido 3 postagens com finais por autor
- O autor deve, obrigatoriamente, estar seguindo o blog
- Sejam criativos, inventem, viajem, inspirem-se e produzam!!
Boa sorte a toooooooooooodos os Reviradores de Gavetas!!!
O Criador de Destinos
Eis que me vejo sentado sobre a cama. Cabeça baixa, carta nas mãos caídas. Tudo em mim era nulo, e eu já não sabia sentir. Ler aquelas linhas tinha sido como arrancar o coração à faca, e agora eu só sentia a dor que me preenchia. Como pode ela fazer isso comigo? Como pode ser fria ao ponto de não dizer adeus olhando nos meus olhos? Comecei a pensar então que tinha sido fraqueza e não frieza a domina-la. Sempre pensamos no que é favorável a nós. Sempre tentamos remediar a dor e causar menos sofrimento.
Comecei então a dar voltas pela casa. O cheiro, a cor, a textura, o tom, o som, tudo me lembrava ela. Era ela impregnada em cada canto da casa, de mim. Passei a crer então que aquela dor atendia pelo nome dela, e só ela seria capaz de tirá-la de lá. Nossa cama, antes tão agitada, agora era somente um mar de lençóis desfeitos... assim como meus sonhos...
E então eu me levantei e corri pra janela e tentei sorver o ar que corria por entre as folhas das árvores. Copas que atingiam nossa janela no segundo andar. Tudo era saudade. Tudo era desilusão. Até o céu era cinza, refletindo minha alma. Viver era pesado demais pra mim. Pensei em subir no terraço e me jogar de lá. 50 metros fariam um estrago no meu corpo de 1,78. Queria que ela soubesse o quanto doía perdê-la. Queria que ela sentisse a dor de me perder pra sempre... por culpa dela... e então o maldito medo me pegou de novo. Sou covarde pra morrer
Abri então o armário do banheiro. Os remédios que faziam-na dormir ainda estavam lá. Pensei em tomar as 4 caixas, de uma vez, e sentir meu estômago explodir, mas de novo, tive medo. Pensei em facas, giletes, álcool, veneno de rato. Nada parecia tão eficaz e rápido. Por que eu não tinha uma arma? Pensamentos são traiçoeiros quando se tem medo, quando se junta no coração amor, mágoa e dor. Eu sentia tudo isso.
Resolvi que iria pra rua, esvaziar-me dela, fazê-la sair pelos poros com o suór de uma corrida, com a massa de um vômito depois do porre. Desci correndo as escadas...
AGORA É A SUA VEZ!! LEMBRE-SE, 15 LINHAS! ATENTE PARA O QUE JA FOI DITO E PARA A TEMÁTICA DO CONTO. CRIE O SEU FINAL E CONCORRA AO LIVRO!!!
BOA SOOORTE!!!
e pra quem quiser o banner pra divulgar, pode pegá-lo aqui Update1: o limite foi alterado pra 20 linhas, já que bastante gente tava reclamando que 15 era pouco, e não querendo desrespeitar quem já respondeu, tô colocando só 5 linhas a mais.
Proibido para pessoas com muito pudor xD Não sou muito de escrever contos, mas gosto muito de ler. Acho que precisava escrever isso pra cessar essa louca que insiste em gritar dentro de mim...
Poesia Urbana
Eu caminhava preguiçosamente pela calçada escura do centro da cidade, chutando uma pedrinha aqui, outra acolá. Voando alto nos meus pensamentos de solidão, enquanto dezenas de putas berravam e gargalhavam à procura de fregueses, bêbadas, trôpegas, nas portas. Acompanhadas. Íamos eu e minha caixa de cerveja, bem unidas, pra casa, para termos uma a outra a noite inteira. Sempre fui fraca pra bebida, sempre fui a primeira a vomitar, sempre fui a primeira a dar vexame, a dançar sem blusa em cima da mesa em alguma festa da faculdade. E nunca liguei.
E eu pensava exatamente “Nele” quando uma gargalhada me atingiu. Encheu meus ouvidos com o som tão familiar, mas tão estranho. Tão longe, perdido nos anos passados. Foi como de repente mergulhar num mar de gelo e sentir o eriçar de cada pêlo do corpo. Era Dele. Eu sabia. Uma dor aguda me passou pelo corpo, seguida de torpor intenso. Pensei que fosse desmaiar, pensei que minhas pernas não me sustentariam. Eu podia ouvi-lo, mas onde estaria? Será que poderia vê-lo também? Ansiedade, mágoa, angústia, prazer dominaram minha alma. Me vi de repente procurando avidamente, farejando como um cão à procura de comida. Acho até que mostrei meus caninos ameaçadoramente pras prostitutas dos bordéis. Eu tinha que achá-lo. Eu o sentia tão perto.
Senti meu coração acelerar e levantei os olhos, ainda farejando o ar. Nosso olhar se encontrou. O riso dele sumiu, e sua boca, cheia de batom, se firmou num gesto vesgo de horror. Eu o vira. Ele me viu. Acho que me paralisei por alguns segundos. Ele me olhava fixamente e eu não podia acreditar no que via. Circundando os olhos oblíquos, muito verdes, minhas azeitonas, como eu costumava brincar, havia um grosso traçado preto. Primeiro pensei que fosse uma marca de soco, mas só então me dei conta, que além do traçado preto e do batom, também havia sombras cor de rosa. E blush. Muito blush barato. Desci meus olhos por seu corpo, tão antes desejado por mim, e vi que em seu tórax ele agora ostentava um soutien. Um soutien que estava dentro de uma blusa que deixava à mostra sua barriga, lisinha, como eu sempre gostei. E ainda havia uma saia. E uma meia arrastão, que terminavam em botas de cano alto, no maior estilo “Paquita”. Comprovei que “ele” tinha se tornado “ela”. Uma puta da zona. Ali, bem ali, na minha frente.
Senti vontade de vomitar pelo choque que tive. Como ele pôde fazer isso comigo? Esquadrinhei seu corpo e ainda o vi ali, tímido e escondido, mas vi. Ele tentou se esconder, pôs as mãos sobre os seios que não passavam de química. Arregalou seus olhos muito verdes e trancou a boca. Vi seus olhos encherem de lagrimas. Ele tinha vergonha. De repente ele começou a correr na direção oposta, fugir de mim, e eu podia ouvir seu choro, seus soluços entrecortados pelo vento. Eu, que antes sempre o protegera, que o desejara tanto e demasiadamente, que para estar junto assumira quase o papel de mãe, era o lobo que corria pela escuridão atrás da lebre.
Virou a esquina num beco e parou na boca do lixo, nos restos de comida que algum restaurante abandonou. Sem ter como correr, me encarou, e eu vi fúria nos seus olhos, vi uma chama vermelha e quente, que me consumia, que sempre me consumiu. Ele me culpava, ele me odiava, por me amar demais, por amá-lo demais. Eu o odiava por ser o filho da puta que foi. E eu o amava por ser justamente esse filho da puta. Nosso relacionamento teve o seu fim antes mesmo de começar. Eu sempre o amei, como homem, ele nunca me amou, como mulher, ele nunca me contou sobre a sua homossexualidade, ele me enganou, me iludiu. Me fez crer no futuro, e de repente sumiu, amassando meu ideal de felicidade ao lado dele.
Seus olhos quentes e verdes lançaram chamas em mim. Aquilo me doeu, me cortou a alma. Eu, vitima, sendo condenada por tudo, por algo que jamais fiz. Ouvi sua voz rouca gritando que a culpa era minha. Ouvi seu uivo de lobo, e de repente a lebre era eu. Recuei contra sua investida, senti a parede em minhas costas. Ele avançou como um monstro em cima de mim. Senti seu hálito de cachaça perto de meu nariz. Senti o cheiro das ervas que ele tinha fumado. Gotículas de sua saliva encontravam meu rosto púrpura de ódio, de medo. De repente vi seu peito arfar debaixo da blusa de oncinha, sua respiração era ofegante, eu acabara de ouvir os maiores desaforos do mundo, culpada de um crime que nunca cometi. Eu era a vítima, eu fui abandonada sem explicação nenhuma. E dentro de mim algo aflorou. Acho que raiva e mágoa não formam uma boa mistura quando se encontram dentro do peito.
Eu senti o desejo me dominar, e então, o beijei. Ferozmente. Foi uma explosão de línguas e salivas e dentes e bocas. Eu o amava ainda, ardentemente, intensamente, odiosamente. Nos afastamos. Me virei e segui meu caminho, com minhas cervejas nas mãos trêmulas. Sentindo o coração pesar dentro do peito, querendo me enfiar debaixo do primeiro caminhão que passasse. As imagens ainda giravam desconexas dentro da minha cabeça. Nada fazia sentido. Ele era meu, ele tinha que ser, eu sempre o quis, sempre o desejei mais do que qualquer outro ou outra. Meu homem decidiu virar mulher. E agora eu sabia. Travamos uma batalha em plena rua. E na nossa guerra de corpos, me roubou duas latinhas de Bohemia. Maldito! Maldito Filho da Puta!