segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Manhã Fria

E quem sabe um dia, ao se virar do avesso, você perceba que o lado de dentro é o seu lado certo?

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Manhã Fria

Entrevejo a névoa branca do alvorecer
Penso na dor que maltrata a carne
Penso na febre que molha os lençóis
Penso no castanho que tinge o chão de urina
Penso no som carregado e uníssono da tosse ressonante
Escuto novamente o grito rouco e agonizante
Dos que buscam conforto nos remédios
Revejo o olhar aflito dos familiares
E de repente, a nossa dor se torna compartilhada
E eu me vejo em cada rosto, em cada corpo, cada lágrima
Da minha janela eu vejo o sol que dissolve a névoa
Vejo a fina manta branca que se dissipa no universo
Enquanto a vida segue seu rumo num sinal que se abre
Em qualquer cruzamento desta manhã fria.



" O mundo onde você vivia virou de ponta-cabeça, mas pode ter certeza que tudo o que parece sem solução não passa de uma ilusão. E quem sabe um dia você abra a janela e veja uma estrada sem fim. Essa manhã fria, de luz branca e amarela não te pareça tão ruim."

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Sobre gritos e silêncios

Era o dia mais triste da minha vida. Eu acabara de perdê-la. Acabara de receber a notícia, acabara de tocar a sua mão fria e estática. Morta. E então veio a dor. E com ela a sua caixa de Pandora repleta de tristezas, de agruras, de tormento e de vazios retumbantes. Colei minha testa no vidro da UTI, minha boca ao mundo, minhas mãos ao vento e soltei os pedaços do coração que batia e apanhava, na ânsia de sobreviver e morrer, ao mesmo tempo, como quem se debate debaixo d'água e tanto afunda quanto nada. E então veio o grito. Alto, pungente, agudo e imperfeito. Experimentei a agonia mais intensa, como se mil punhais flamejantes transpassassem o meu corpo e arrancassem de mim tudo o que sou e sei. E foi então que eu o vi. Calado, sentado num canto, envolto no silêncio denso feito névoa que ecoava de sua tristeza. Minha dor gritava, urrava, esmurrava e chutava tudo ao redor. Saía pelos poros, vazava da boca e dos olhos, transbordava o coração e a alma. Minha dor era trovão e a dele mudez. A dor dele era intangível, imensurável. Enquanto a minha explodia, a dele descia pela garganta, serpenteando entre o choro engolido e se instaurava lá dentro. Quieta, muda, latejante. Perigosa. Minha dor lutava para fugir, e a dele se escondia. Como um animal acuado, recostou-se de cabeça baixa e chorou. Chorou pra si, pra sua dor. Regou-a com suas lágrimas internas. Queria abraçá-lo, queria dizer a ele que tudo ficaria bem. Queria recolher as suas mãos entre as minhas e enchê-las de esperanças, mas o sentimento dele era isolado, era único, intocável. Imóvel, ele assistiu a minha dor correr. Correndo, eu mal vi a sua dor implodir. Enquanto a minha dor berrava para sair, esguichava e enchia o ar, a dele silenciava, crescia para dentro, implodia e estremecia, como se o magma incandescente voltasse para dentro da terra e ardesse em brasas até queimar tudo por dentro, para só então escorrer em lágrimas quentes pela face e formar o pequeno oceano negro de tristeza mútua que nos rodeava e nos separava. E assim passamos longos meses em busca de algo que jamais teríamos. Que nunca mais encontraríamos. Que nunca mais fomos.
Desculpe-me.



conto-homem-triste

"Água deve vir, diz a previsão. Vai nos alcançar sem qualquer rancor. Maré alta em mim. Água um dia brotará dos nós, em nós. Vai decantar. Lágrimas que fingem que não são mas são parte da enxurrada que virá, cheia de esquecer. Uma inundação por todo lugar porque se evitou. Maré alta enfim." (A Banda Mais Bonita da Cidade)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Marina

Tens o nome da minha heroína
Faça a homenagem valer
És esperança, o amor que ensina
És vida nova a florescer

E quando ao te segurar
Mirei teu doce olhar que sorria
Eu vi o sol a raiar
E o que era noite virar dia

Mergulhei no teu azul profundo
E vi um reflexo que eu já conhecia
O mundo parou por um segundo
E eu me descobri "tia"

E desde o dia em que você nasceu
Que eu me sinto assim, plena
Toma, Marina, que é teu
Meu amor em forma de poema.





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"Por ser exato o amor não cabe em si. Por ser encantando, o amor revela-se. Por ser amor, me invade... e... fim..."