sexta-feira, 9 de julho de 2010

Abandono próprio

Existe abandono maior do que abandonar-se? Abrir mão de quem você mais deveria amar no mundo? Essa foi a pergunta que mais me martelou os miolos naquela tarde de sexta-feira.
Creio ter sido por causa daquele homem cinza, que teima em aparecer no meu caminho. Como o que se suicidou na minha frente, muitos outros existem espalhados pelo mundo. O mundo é cheio de pessoas cinzas, que preferem a subvida. Eu gosto de viver por inteiro, sentir, sorrir, amar. O nulo não tem espaço em mim, mas teima em aparecer, talvez pra me mostrar o que eu não quero. Nem sempre a vida tem que ser decisão pelo melhor. O que não pode é ficar no impasse. Deixar de lutar. Creio nisso como forma absoluta de vida.
Mas que falta de educação a minha! Nem me apresentei. Pois bem, me chamo Luisa. É sem acento, por favor. Sou dessas pessoas cheias de animação que você vê. Dessas que esbanjam auto confiança. Por fora. Não é que eu seja falsa, ou finjida ou tente ser quem eu não sou. É o mundo que me enxerga de outra maneira. O mundo só vê a capa, a embalagem. Eu tô aqui dentro, em essência, escondida pelas cores e formas que tenho. Isso nunca me incomodou, exceto por um único fato: as pessoas nulas conseguem enxergar aqui dentro. Com seus olhares simples e indiretos, atingem quem se esconde em mim. Sua palidez me perturba, e eu me torno um deles. Um ser vacilante, quase apagado. E eu não gosto disso, nem consigo me defender. Tento sempre esconder esse abandono próprio que eu tenho, tão singular, mas tão plural quando compartilhado com eles.
Se eles soubessem como me desarmam, como me destroem, como me atingem... me incomodo com palidez. "Nulidade, nulismo" ou que nome tenha. Gosto do risco, aprecio a coragem de viver. De levantar-se todos os dias e enfrentar o novo sem planejar ou esperar. Vivo esse paradoxo intenso dentro de mim, sem saber como reagir ao desarme que acontece sempre que um olhar vacilante, choroso e acovardado pelas pressões sociais cruza os meus, pra se rebaixar depois. Dor alheia doendo bem fundo, em mim.

"Na madrugada sem papo, chuto uma pedra e era um sapo" - Rolo de Rezende

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Não sei definir o que é isso aí em cima.


4 comentários:

  1. as pessoas nulas podem já ter sido como você, mas elas desistiram do próprio ser , começando a viver para os outros e não queremque outras pessoas não sejam como elas... XDDDDDDDDDDDD
    nada a ver isso que digitei, mas não podia vir aqui e simplesmente falar gostei muito D:
    muito bom, ;D

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  2. Nanah, adoro o jeito como escreve, parabéns mais uma vez! Te amo amiga, beijos Marina

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  3. Uma das coisas que eu mais me questiono é como a gente se deixa abandonado quando o natural é a auto-preservação (oi, nunca sei quando usar hífen, bjs).

    Amei o texto, Thata!! *.*

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