segunda-feira, 29 de maio de 2017

Oca

As bolas de algodão passeavam por sua face. Aos poucos, revelava seu rosto real, enquanto a cara maquiagem tingia a bolota branca e macia em sua mão.

Assim, de cabelos presos e rosto limpo, lembrava apenas vagamente a mulher que era durante o dia. As bolsas arroxeadas sob os olhos eram constantes agora. Era necessário muito corretivo e pó para deixar a pele apresentável.

Andreia sentia o peso da idade. Seus 32 anos, cheios de baladas e vida noturna, além da constante cara fechada, faziam-lhe rugas próximas aos olhos. As mãos, antes macias, começavam a apresentar algumas manchas e aspereza.

Olhou-se francamente no espelho, e não gostou do que viu. Não se via na mulher madura que o reflexo lhe mostrava. Não conseguia se enxergar sem as roupas de grife, a maquiagem impecável e todos os adereços luxuosos que ostentava. Assim, despida de tudo o que lhe compunha, era somente mais uma, e ela gostava mesmo era do destaque.

Deitou, mas não conseguiu dormir. Rolava pela cama vazia, pensando em sua vida. Mais de 30 anos, morando com a mãe, em um emprego que não via muita evolução, sem um namorado fixo e sem nada que fosse seu de verdade, além das dívidas em seu nome dos cartões de crédito.