sexta-feira, 10 de abril de 2009

Anoitecer



Anoitece. Tudo fica escuro em minha volta, é uma noite sem lua. Sem estrelas. Sem nada. Mas é noite, e fria. Fibras que se unem, intransponíveis e negras. Noite. Badalo mórbido que soa no peito. A falta dolorosa de algo que se perdeu no espaço. O tempo minguando, como areia em ampulheta. Me afino e passo como os grãos, pelo buraco dos vidros. Sou o tempo, sou o hoje e sou o agora, e necessito de um amanhã. Algo além do nascer do sol. Mais que raios interpolados trazendo luz. Necessito de vida, necessito de dia. Mas hoje eu sou, e sou noite, e tudo ao meu redor é trevas, e temo, que o nascer do sol esteja longe, que ainda haja muita escurião pela frente. Temo que o amanhã seja tão escuro quanto hoje. Temo o chão de incertezas onde piso, e o céu de dúvidas que contemplo. Temo que a vida passe demasiadamente rápida, sem que eu possa perceber as flores do meu caminho, pois as ervas daninhas estão vindo antes no meu jardim. Temo que não haja nada atrás do arco-íris, pra onde corro desesperada e sofregamente. Temo que além do véu não haja nada além de vozes. Gritos e sussuros de agonia que se calam e se conformam. Temo que a noite se torne tão insuportavelmente pesada, que eu me amasse, e me perca, que eu vire pó, na estrada, que gruda nas sandálias de muitos. Temo que a noite seja assustadoramente impenetrante, que eu, na ânsia de vencê-la, me perca de meu anjo. Temo perder ainda minhas "linhas-guia", minhas referências, minhas marcas, essência do que fui, do que sou, e do que serei, se conseguir chegar ao nascer do sol. Vejo fendas no chão à minha volta. É o mundo que me isola, que me cerca de mim.
Temo ser tão cruel quanto esta noite que parece perdurar por décadas e que temo não ter fim.


"Só eu sei as esquinas por que passei..."

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